(Mário Quintana)

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quarta-feira, 28 de março de 2007

Cora Coralina – A Casa Velha da Ponte

© Walmir Lima

Tenho orado muito ultimamente e procurado abrigo em preces não tradicionais que li, algum dia, escritas por gente que amo e admiro: meus poetas - mentores e inspiradores. Elas reproduzem muito do que eu sinto e me saciam.

Relembrando uma dessas orações que, de vez em quando, leio, senti vontade de fazer uma homenagem a uma mulher que é a expressão do valor e da beleza que um ser humano pode atingir nesse mundo.

Homenageio seu exemplo, sua luta, o reconhecimento tardio, sua relação de troca generosa com suas origens, sua relação com sua casa – sua fonte de sustento, seu panteão.

Ela é Cora Coralina – um exemplo de vida, de esperança e da certeza de que tudo é possível...

A Casa Velha da Ponte

Às margens do rio Vermelho, na cidade de Goiás, a casa de Cora, que virou museu após a morte da poetisa, é a lembrança viva dessa doceira que eternizou em versos os encantos de sua terra e a vida simples do interior.

Escritores que têm ou tiveram muitas casas costumam afirmar que a principal, aquela que costumamos chamar de lar, é onde guardam os seus livros.

No caso de Cora Coralina, cujo verdadeiro nome era Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, essa questão nunca chegou sequer a ser formulada. Seu amor pela Casa Velha da Ponte foi cantado em verso e prosa, para não deixar dúvidas.

Sua imagem de doceira que fazia versos ficou para sempre associada à casa onde nasceu, em 1889, e onde também morreria, em 1985.

A construção colonial acolheu várias gerações da família. Com a morte precoce do pai de Cora, o quintal tornou-se o celeiro a garantir a sobrevivência da mãe, dela e das irmãs.

O amor pelas plantas veio daí. Ela e as irmãs vendiam frutas e verduras e talvez tenha nascido, na mesma época, a doceira que Cora seria até o fim de seus dias.

Os doces que ela preparava no fogão a lenha, em grandes tachos de cobre, eram feitos com frutas do seu quintal.

Mas possuía também o talento para os versos - dom que exercitava já aos catorze anos de idade.

Foi graças aos dois ofícios, vendendo doces e livros, que pôde, mais tarde, recuperar a casa, arrematando-a em leilão num conturbado inventário que se arrastava há décadas.

As últimas três décadas de sua vida – as mais produtivas, quando começou a publicar seus livros – Cora passou ali.

Somente aos 75 anos, viu sair ‘Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais’, o primeiro. Veria outros dois antes de morrer e três sairiam após a sua morte, com quase 96 anos.

Cora passava horas na rede, escrevendo poemas à mão em seu caderno. Só depois dos 70 anos aprendeu a bater à máquina, passando a usar a Olivetti Studio 44 em vez dos cadernos.

E mesmo quando já era famosa e recebia intelectuais continuou a vender produtos do seu quintal. Todos na cidade iam buscar pimenta, cheiro verde e cebolinha da Cora.

Os visitantes do museu, como eu, sentem que, mais que seus livros, Cora guardou ali a própria essência deles: seus pertences revelam a alma da artista, mulher simples, que só cursou a escola primária e cuja sabedoria emanava da terra, da natureza e das tarefas do cotidiano – suas raízes verdadeiras.

Foi numa visita à Casa Velha da Ponte que um dia copiei essa linda oração reveladora do puro ‘eu’ interior de Cora Coralina.

Cora Coralina, viva em paz! ...Para sempre.

Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que eu possa agradecer a Vós
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.

E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.

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29 Comentários:

Blogger Ernesto Dias Jr. disse...

Bem, resolveste postar. Segundo requisito preenchido, rsrs

28 de março de 2007 às 02:45  
Blogger Anne M. Moor disse...

Justa homenagem. Ela é um exemplo a ser seguido e as poesias dela vão funnnnnnnnnnnnnnndo.

28 de março de 2007 às 10:01  
Anonymous Anônimo disse...

Walmir:
Que sentimento sutil emerge das entrelinhas desse seu texto.Os escritos tem muitas vozes,e a que se sobressai desse é um sussurro de delicadeza.

28 de março de 2007 às 10:52  
Blogger Udi disse...

Que lindo, Walmir!
A Lu expressa a mesma emoção que tive enquanto lia.
Senti tanto cuidado na tua escrita, vindo de lá do fundo do coração, como se compartilhasse de mais um segredo.
Não sabia de toda essa história, fico agradecida por ter contado.

28 de março de 2007 às 12:56  
Blogger Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Esta senhorinha admirável...
Compartilho de sua homenagem!
Abraço,
Amanda

30 de março de 2007 às 08:47  
Blogger Maria disse...

Que lindo presente Walmir!
Obrigado.

31 de março de 2007 às 04:29  
Blogger Udi disse...

Walmir,
Pelo seu comentário no Sarau Balzac pude entender o nome do blog.

31 de março de 2007 às 09:57  
Blogger Anne M. Moor disse...

Walmir... posso botar um link do meu blog ao seu?

31 de março de 2007 às 20:34  
Anonymous Anônimo disse...

Walmir,
você tem o poder de dar nó na minha garganta, até com um simples comentário(lá no ultimo post do Assertiva). Credo!Isso parece bruxaria(rss).Bjo.

31 de março de 2007 às 21:00  
Blogger Walmir Lima disse...

Anne, claro que sim. Agradeço seu carinho. No meu, o Life... Living... já está! Tomei a liberdade.

31 de março de 2007 às 23:52  
Blogger Walmir Lima disse...

Lú, sou apenas 'eu mesmo' quando escrevo. Como você já deve ter notado, escrevo do fundo do coração, procurando ser o mais simples possível, mas sempre sincero. Não tenho a preocupação de parecer erudito, rebuscado nem genial - coisa que não sou. Se escrevo coisas que você entende como bonitas, é apenas o reflexo do sentimento que vocês, meus amigos, me inspiram: muito amor e carinho. Vocês e o fato de aqui eu poder externar o que sinto, creia, estão mudando e melhorando minha vida!

1 de abril de 2007 às 00:07  
Anonymous Anônimo disse...

Ainda bem que vc não é rebuscado no escrever. Preciosismo é muito chato e deselegante.
Você tem razão Walmir, os seus escritos me emocionam porque refletem mesmo seu interior.E, claro, porque são bem escritos.
Bjo.

1 de abril de 2007 às 08:22  
Anonymous Anônimo disse...

Hoje li o poema "Das pedras" e vesti como uma roupa feita para mim. Muito obrigada pelo que escreveu a respeito dessa grande mulher que era desconhecida para mim.

11 de abril de 2007 às 05:40  
Blogger Walmir Lima disse...

Obrigado pela visita, Janice. Quero saber quem você é! Espero que volte sempre para compartilhar conosco sua sensibilidade.

14 de abril de 2007 às 02:15  
Blogger Walmir Lima disse...

Passando na esquina de um blog,
mensagem sem rosto, só nome
bonitas palavras, oculta amizade,
um vulto passando na louca cidade
chegou e sumiu com tal brejeirice
deixando a pergunta: quem é a Janice?

14 de abril de 2007 às 02:20  
Anonymous Anônimo disse...

Oi gosto muito de Cora Coralina, muito bem escrityo sobre ela aqui, parabéns!
Solange Mazzeto

3 de novembro de 2007 às 15:14  
Blogger Walmir Lima disse...

Prezada Solange,
Bem-vinda ao nosso convívio. Volte.
Existem caminhos lindos de poesias interessantes nos outros blogs dos meus amigos. Aproveite para visitá-los através dos "Links" abaixo do meu perfil.
É um prazer tê-la conosco. Um abraço.

3 de novembro de 2007 às 22:55  
Blogger Unknown disse...

Visitei Goiás em junho deste ano e me emocionei muito com a casa de Cora. Também sou poetisa e quero enviar um poema que fiz e, homenagem a esta grande poetisa. Para onde envio o poema?

7 de agosto de 2008 às 23:51  
Blogger Walmir Lima disse...

Olá, Maria
Por favor mande para walmirlima@terra.com.br
Será um prazer recebê-lo.

11 de agosto de 2008 às 01:06  
Blogger Ƭ. disse...

já conhecia a história de vida de cora coralina, pseudônimo de ana

mas esta viagem até aqui me proporcionou um doce sabor à história

foi como assistir a própria ana em sua casa a fazer doces e entre uma e outra colherada, sentar-se a escrever seus poemas

entre gostos e sabores, cheiros de frutas frescas misturadas e devidamente alinhadas ao cheiro mais forte de temperos

como assitir uma representação teatral que tão dramática ficamos com a sensação de vida real

vc faz isso
só por isso


benditas sejam as palvras que escorrem de seu mais profundo ser
e a colorir nossos dias
em movimentos
e sabores

obrigada, querido

neste momento era exatamente o que eu precisava, reanimar minha tarde tão triste

que de tão triste
se torna completamente sem sentido

forte abç,

teresa


---

12 de fevereiro de 2009 às 19:19  
Blogger Ƭ. disse...

a sentir o cheiro...
ainda
:)

13 de fevereiro de 2009 às 21:04  
Blogger Maria Clara disse...

Walmir,
Fiquei emocionada, já gosto de Cora Coralina e o que escreveste, vale a pena guardar!

23 de fevereiro de 2009 às 21:56  
Blogger Walmir Lima disse...

Seja bem-vinda, Maria Clara

Tuas palavras muito me honram.

Nossa maravilhosa e inspiradíssima, Cora
também é fonte inesgotável de inspiraçäo.

Falar sobre ela é aproximar-nos do divino.

Tenho, para mim, que é como escrever poemas,
já que, tudo nela é poesia.

Volte sempre, e espero que leia outra postagem
mais recente que fiz sobre ela e que se chama:
"Quebrando Pedras e Plantando Flores".

Um beijo

23 de fevereiro de 2009 às 22:20  
Anonymous Anônimo disse...

Adoro a colecao de livros de cora coralina ela expresa tudo que sente en seus poeema
beejo

12 de agosto de 2009 às 15:08  
Blogger Walmir Lima disse...

Prezado(a) Anônimo(a),

Considero a obra de Cora uma das maiores preciosidades da nossa cultura.

Obrigado pela visita.

Gostaria de saber seu nome - de uma pessoa tão afortunada.

12 de agosto de 2009 às 16:06  
Blogger MTB disse...

Que coisa linda!

5 de setembro de 2010 às 16:34  
Blogger Walmir Lima disse...

Olá, Teca

Obrigado pela visita. Fico feliz ao conhecer pessoas que, como eu admiram Cora em toda sua beleza.

5 de setembro de 2010 às 16:59  
Anonymous Sandra disse...

Olá! Adoro Cora Coralina, sou carioca mas moro em Natal/RN, estou terminando o curso de Ciências Sociais na UFRN e minha monografia será sobre Cora!
Por isso entrei para ver seu Blog e gostei muito, vou visitar sempre que puder.Abraço!

17 de agosto de 2012 às 18:24  
Blogger Walmir Lima disse...

Olá, Sandra

Que alegria em ter você por aqui.
Muito grato por sua visita !!

Também sou um apaixonado por Cora e sempre me emociono ao ler ou falar sobre ela.

Escrevi e publiquei alguns posts sobre ela, prestando homenagens àquela que, para mim, foi um dos maiores exemplos de mulher de fibra, de vida rude, mas de alma marcada pela suavidade de sua linda poesia.

Espero mesmo que você explore mais meu Blog que anda meio devagar, sem muitas coisas novas minhas (poemas, cronicas e quadros - alguns ilustram os posts), mas, na ferramenta de busca, você poderá encontrar minhas homenagens a Cora.

Desejo boa sorte em sua Monografia e espero que meus escritos lhe sejam úteis.

Abraços,
Walmir

.

17 de agosto de 2012 às 18:57  


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29 Comentários:

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