(Mário Quintana)

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

De Alguém Que Me Entende

© Walmir Lima

Desiderio

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
E é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo,
Que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes,
E que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã
E nos dias seguintes.
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

(Victor Hugo, escritor e poeta francês, 1802 - 1885)


...Por que em tudo isso há muito mais que um desejo...


(Imagem: Óleo pintado em Janeiro de 2008)

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24 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Ass: Filhotona

21 de janeiro de 2008 às 04:19  
Blogger ana disse...

Walmir,
gracias por bailar conmigo, este fin de semana ha sido un tanto especial para mi. Melancólico.

Por cierto, no es para reirse sino más bien para aplaudirte; tienes una voz muy bonita, profunda. No sabía que cantabas tan bien. Como ya te dije anteriormente, eres polifacético. Y esa canción...

Como alguien me dijo, un prisma; la luz que sobre tí pasa, se descompone y hace aflorar colores preciosos. Tu eres como un prisma!

El poema de Victor Hugo, precioso, hace un repaso de las necesidades que muchas personas tenemos, amor, amistad, valentía, afecto...común en cualquier etapa de la vida de un hombre o una mujer.
Hay más de una persona que te entiende.
Un beso Walmir,
ana.

21 de janeiro de 2008 às 06:29  
Blogger Walmir Lima disse...

Um beijo, filha,
Que lindo ter você por aqui.
Te amo.

21 de janeiro de 2008 às 07:08  
Blogger Walmir Lima disse...

Ana,
Gracias por tus lindas palabras.
Tu delicada postagem "Bailamos?" (y además, con esa preciosa canción "Blue Moon" cantada por Rod Stewart), es verdaderamente una invitación irrecusable.
Un beso,
Walmir

21 de janeiro de 2008 às 07:24  
Blogger Jorge Lemos disse...

Este poema é o triunfal encontro
deu um individuo com o seu interior.
As virtudes e os defeitos se igualam, dando-nos
a certeza da necessidade do equilibrio.

21 de janeiro de 2008 às 08:12  
Blogger Jorge Lemos disse...

Revela aqui uma acentuada Paixão critica.

21 de janeiro de 2008 às 08:14  
Blogger Anne M. Moor disse...

A viagem necessária de uma vida... Lindo poema meu amigo!

21 de janeiro de 2008 às 08:18  
Blogger Maria disse...

Lindo poema, e a pergunta que fica no ar...O que move o desejo?..

21 de janeiro de 2008 às 11:37  
Blogger Ernesto Dias Jr. disse...

Nada move o desejo, Maria. Ele é a única coisa que temos que se move sozinha. E arrasta com ele todas as coisas.

21 de janeiro de 2008 às 12:45  
Blogger Unknown disse...

Passei pra dizer que amei o poema.
Beijokas enormes no seu coração

21 de janeiro de 2008 às 19:10  
Blogger  disse...

Walmir :
Desejo com enorme intensidade que seja MUITO, MUITO FELIZ....
Jorge:
Como sempre me impressionam a profundidade e a sabedoria do comentário.Isso é resultado de uma mente reflexiva , sensível e inquiridora.
Lú.

21 de janeiro de 2008 às 21:18  
Blogger  disse...

Esse Walmir tá impossível! !!!(rsrsrsrs).
Lú.

21 de janeiro de 2008 às 23:02  
Blogger Jorge Lemos disse...


Nadamos pela mesma vertente
de um rio. Isto é bom.
Walmir está com a bola toda.

22 de janeiro de 2008 às 09:02  
Blogger Flavio Ferrari disse...

Desejo que sigamos desejando.

23 de janeiro de 2008 às 00:31  
Blogger  disse...

Jorge:
Escolhemos a mesma vertente do rio pra chegar ao mar onde todos chegarão.
(Gostamos dos mesmos caminhos)
Eu sei.Por isso me emociono...


Walmir:
Já comecei com conversa paralela. Desculpa , mas a familiaridade com a casa e a elegância do dono me fazem abusar.
Bj.
Lú.

23 de janeiro de 2008 às 09:38  
Blogger Amélia disse...

Desejo apenas que você deseje... Sempre!!

23 de janeiro de 2008 às 09:54  
Anonymous Anônimo disse...

Walmir,

Lindo,lindo poema! Amei de paixão!
Abraços e beijos, em seu coração!
Maria Helena.

23 de janeiro de 2008 às 16:09  
Blogger Walmir Lima disse...

Jorge, Anne, Maria, Lú, Flávio e Ti,
Desejar é a mola mestra do seguir.
Desejemos, pois...
Um beijão.

27 de janeiro de 2008 às 01:53  
Blogger Walmir Lima disse...

Maria Helena,
Bom te ver por aqui.
Teu passar tem sido esporádico, mas sempre carinhoso e bem-vindo.
Saudades,
Walmir

27 de janeiro de 2008 às 01:55  
Blogger ana disse...

Walmir: Encontré esto, me gustó, venía muy a propósito para tu post.

"Nunca se deve deixar de desejar. Parece-me que os desejos se não cumprem, mas há desejos que duram muito tempo, que duram toda a vida, de forma que nem se poderia esperar pelo seu cumprimento"
Rainer Maria Rilke.

Un beso grande.

28 de janeiro de 2008 às 05:22  
Blogger Walmir Lima disse...

Maravilhoso, Ana!
Você conhece Rilke como ninguém e ele nos conhece, a todos, mais ainda. Conhece nossa alma.

28 de janeiro de 2008 às 19:39  
Blogger Érica Martinez disse...

rá! e eu que achava que o genial era o Frejat... hum...

30 de janeiro de 2008 às 08:52  
Anonymous Anônimo disse...

Walmir boa noite o Carlos do cafe me deu seu site fiquei emocionada com tantas palavras lindas um abraço Ivani

1 de fevereiro de 2012 às 20:30  
Blogger Walmir Lima disse...

Prezada Ivani,

Muito grato por sua visita a este meu cantinho.

Nosso amigo Carlos, ao divulgar meu Blog, demonstra toda sua generosidade, e, ademais, ele sabe identificar aquelas pessoas sensíveis, como você, ao fazê-lo. Carlos sabe reconhecer nelas seu lado iluminado de apreciadores da Arte e do mais importante que ela encerra: o sentimento do artista.

Se você ficou emocionada, saiba que sua emoção é compartilhada com a minha.

Já fazia algum tempo que eu não recebia uma manifestação de carinho como a que você me presenteou agora com suas palavras no comentário.

Elas me fizeram lembrar de um texto que publiquei logo nos primeiros meses de criação do O Centauro.

Eu estava maravilhado com o novo e fascinante mundo que se descortinava diante de mim: o do carinho espontâneo de pessoas que eu nem conhecia, mas que descobriam meu interior através das publicações - as chamadas “postagens.

A postagem tem por título: “Abrir o Coração” e me foi inspirada andando no Parque da Cidade. Um trecho do texto diz mais ou menos assim:

“… E minha vida mudou tanto em tão pouco tempo. Tenho recebido tantas manifestações de carinho, desde então.

Quanta coisa aconteceu. Quanta gente linda surgiu em minha vida, me ajudando a sentir uma das sensações que mais me tocam e me importam...: a sensação de aceitação. Aceitação do que sou, de como sou e do que faço. Eu não percebia, não tinha consciência, até agora, do quanto isso era importante para mim.

Agora, recebo lindas manifestações de carinho e de gratidão pelo que escrevo, como se eu fosse o especial em toda essa história.

Como tenho conversado e dito, sinceramente, o especial não é o poeta, o escritor. O que seria dos poetas e escritores se não existissem pessoas sensíveis o bastante para entender o que foi escrito, para sentir maravilhas nele, para se identificar dentro da obra.

Estes leitores sensíveis são tão poetas quanto, são tão especiais quanto, ou mais: Veem e sentem coisas que nem o autor viu ou sentiu...”

Benvinda ao O Centauro.

Espero que consiga ler mais e, quem sabe, possa se identificar com algumas situações que vivi e contei, e que também possa encontrar o seu meio e forma de expressar sua linda sensibilidade.

Um beijo carinhoso,

Walmir

3 de fevereiro de 2012 às 21:42  


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