Jorge Lemos - Rio Doce
© Walmir Lima
Jorge Lemos
Amigo é uma dádiva. Alguns dos que tenho são do tempo de infância e juventude, como é o caso do Ernesto, que conheço há quarenta e tantos anos - e por isso sou grato a Deus. Outro, meu e do Ernesto, é o querido Jorge Lemos, com quem trabalhamos nos idos dos anos 70.
Quero falar um pouquinho desse homem e escritor maravilhoso. Sua verve inteligente tanto encanta pelo lirismo de sua veia poética, quanto tritura e arrasa quando se levanta contra a existência e persistência de imbecis que ferem seu apurado e consciente senso de justiça e correção.
Como escritor, Jorge nos brinda com pérolas como seu poema ‘Quando a Água Se Fez Doce’, de seu livro ‘Meu Amargo Rio Doce’. Seu conteúdo encantador é capaz de fazer um rio adquirir a verdadeira personalidade de um ser humano. Desse lindo poema, extraí um trecho e divido com vocês hoje.
Rio Doce
Jorge Alfredo Gomes Lemos, capixaba de Muqui, que hoje vive em Louveira, é escritor e teatrólogo, com mais de 28 obras publicadas, e amigo do grande Thiago de Mello.
Jornalista, historiador, radialista e publicitário dos mais intensos e destacados trabalhos, fez cinema, teatro e produção de TV. Hoje, também é conferencista, promove encontros culturais e é membro fundador da Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências.
Foi Menotti Del Picchia (uma vez entrevistado por ele), com sua frase ‘O menino sabia a linguagem da água...e patinhava’, quem o inspirou a escrever essa poesia...
Quando a Água Se Fez Doce
“O menino sabia a linguagem da água...
e patinhava”, em gostosa brincadeira,
a lama grossa que se formava
com o sereno da fria madrugada,
no fundo da grota, lá no cocuruto
da velha serra mineira.
Foi assim que nasceu meu Doce!
Meu Doce e morno rio nasceu
dos pés descalços do menino
que nunca foi a uma escola,
mas que sabia fazer nascer e crescer
rios como ninguém:
A linguagem das águas exige pureza
que só as crianças possuem!
Não tem outro rio tão puro e tão doce
como este meu Rio Doce.
O Doce nasceu livre,
como devem nascer todos os rios!
Ágil, serpenteou montes, alisou pedras,
despejando-se, às vezes, lá do alto,
em cascatas, corredeiras
e até em cachoeiras.
Um moleque travesso
sempre faz mil brincadeiras.
Rio travesso é assim mesmo:
Se faz moleque para dar alegria
e prazer a muitas vidas.
Um rio, para ser rio bom,
tem que ser ousado;
despejar-se entre pedras
para entrar e conquistar um outro Estado.
Foi assim, a partir do Raio;
saindo das Minas Gerais,
meu rio, noutro Estado, o danado,
como bom conquistador,
fez-se amante e fez-se amado!
Respeitoso, pediu licença ao povo,
cortou largo, espraiado,
gingou maneiro, com aquele jeito manso,
foi conhecer o mar.
Rio gabola, gosta de mostrar suas grandezas;
formou um vale só para si,
numa ânsia incontida de se fazer amar.
Bendisseram todos os oceanos
o gesto deste rio ousado
que impregnou, de um doce amor,
o sal de todas as águas.
Nessa doce lembrança
dos meus tempos de criança,
volto sempre às margens do meu rio,
para lavar em suas águas
minhas tristezas e mágoas.
O Doce sempre adoça
a vida de quem o ama.
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17 Comentários:
Que poema lindo... Rios sempre tem um encanto especial e se assemelham à vida...
"Um rio, para ser rio bom,
tem que ser ousado;
despejar-se entre pedras
para entrar e conquistar um outro Estado...."
Meu amigo, quantas entrelinhas (como diria a Anne).
A poesia é muito bacana.
Mais bacana ainda a homenagem ao amigo.
Pois é, queridos Anne e Flávio, como disse no meu texto de abertura, a doce e sensível inventiva do Jorge é capaz de fazer um rio ‘adquirir’ e encerrar em sua narrativa a verdadeira personalidade de um ser humano.
Estou adorando frequentar este blog que, a cada post, acrescenta-nos conhecimento com muita poesia.
Obrigada, Walmir
E você é muito bem-vinda, Udi. Um beijo.
É... navegando nos blogs e mergulhando nos seus rios de idéias tenho aprendido um bocado.
Linda poesia, Walmir!
E, de acordo com a Udi. Estou adorando blogar por aqui. Que o sagitário siga te inspirando!
Oi, Udi. Que bom que você notou as fotos novas que ilustram as postagens antigas. Grato pela visita.
Queridos Anne, Flávio, Udi e Amanda, o Jorge é mesmo arrebatador. E, boa: Acabo de visitá-lo e recebi dele lindos (e ainda inéditos) poemas do seu próximo livro para postar em primeira mão. Aguardem.
Udi, a foto do Ernesto de que gostastes (Soneto X - by Ernesto) tirei num momento em que ele me lembrava muito o Geppetto, esculpindo o Pinochio. Também gostei dela. Ficou bem a 'cara (e o jeitão) dele'.
Então tu és o autor da foto?! (ele tornou a postá-la no Assertiva) É muito boa. Além da maestria com as palavras também com as lentes!
E estamos ansiosas aguardando os inéditos do Jorge!
beijo
estou sim, pai!
confesso que é ao mesmo tempo estranho e maravilhoso ver você escrevendo aqui. alguns posts vou reler com calma.
o lance do vídeo no blog é fácil: vai no youtube.com e procura algum vídeo, ou chega nele a partir de algum link que te mandarem. por exemplo, este link vai te levar a comerciais dos Mutantes feitos pra Shell nos anos 60:
http://www.youtube.com/watch?v=-MJCaGvrPRk
ao lado da tela tem a descrição do vídeo e dois campos marcados com códigos. um é URL que é justo esse link que postei acima.
o outro é o Embed, que é um código maior. é justo ele que você deve colar no post do seu blog, como se fosse um texto qualquer. a telinha vai aparecer automaticamente com o play e tudo.
=D
um beijo, se cuida, meu véio!
Obrigada Hector, estava mesmo querendo saber como fazer isso.
Tah bonito nesta tb.Recebeu meu email? Bjo
Hmmmmmmmmmmm... mudou a foto!!
Walmir, blogar tá te fazendo bem! Percebe-se pela foto!
Hector: meu filho vai adorar a dica dos Mutantes (e eu já estou indo conferir!)
Lú, Anne, Udi: Gente boa, boa fotógrafa (minha filha) e câmera boa...
Hector, filhote, que bom que você veio ver o véio! (viiige!)
Lú, recebí seu e-mail. Muito grato!
Como te respondi: Assim, quem ficou com nó na garganta fui eu. Bjs.
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