(Mário Quintana)

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sábado, 1 de agosto de 2009

Princípios e Mágoas

© Walmir Lima


Isso foi há anos, quando as coisas ainda não estavam tão definidas. Quando a gente ainda podia mudar o curso das coisas, se soubesse como fazer.

Éramos apenas dois jovens, virgens, fogosos e intensamente atraídos um pelo outro.

Ela era perfeita. Ela sempre foi perfeita.

E eu queria que ela continuasse assim... dessa maneira.

Queria que ela fosse jovem... jovem e madura, de alguma forma.

É claro que não era o que parecia para ela, mas, eu simplesmente não a possuí naquela noite.

-o0o-

Quando nos encontramos depois de certo tempo, falamos de muitas coisas, mas nunca daquilo.

Falamos do amor em geral, como se fosse tema de dissertação, e não como algo real.

Ela disse que o amor era como pular de um penhasco, ou como quase se afogar...

Honestamente, por muito tempo eu não entendi o que ela quis dizer.

Quer saber o motivo pelo qual eu parei naquela noite? Não foi por nobreza de caráter.

Isso foi o que eu disse a mim mesmo.

- Temos todo o tempo do mundo, certo? Pensei.

Mas, eu sabia que algo seria roubado de nós, e que algo desconhecido tomaria seu lugar - algo de que nós não sabíamos.

Restou a mágoa e a decepção a constatar que alguns momentos definem nossas vidas.

Às vezes, apenas um momento e, depois, passa...

Para sempre...





(Esse texto é uma parábola que fiz publicar no Jornal Cidade de Santos, em 1975 - Imagem: Óleo sobre tela "Storm at Sea")

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15 Comentários:

Blogger Anne M. Moor disse...

Lindo texto reflexivo...

Foi assim porque não era pra ser! Quanto mais vivo, mais tenho a certeza de que as coisas acontecem quando tem que acontecer...

Beijos (Glad to see you back.)

2 de agosto de 2009 às 23:09  
Blogger Ava disse...

Nos fazem crer que temos todo o tempo do mundo...

Walmir, não temos... e se deixamos alguma coisa para depois, esse tempo nos é tirado...

Aí surgem a mágoa e a desilusão..


Mas depois somos capazes de transform isso em belos ensaios poéticos...

Bom te ter de novo por aqui...

Beijos

2 de agosto de 2009 às 23:38  
Blogger Walmir Lima disse...

Anne,

Esse texto foi escrito numa outra época.
Olhando para ele agora, vejo que nem nossos equívocos mais marcantes apagam um sentimento profundo.

2 de agosto de 2009 às 23:45  
Blogger Walmir Lima disse...

Ava, amiga atenta.
A Anne, falou no Life...Living no sentimento do prazer entre o bom e o ruim.
"Sentir o encanto do amor a crescer
A sensação do estar perto sem estar
Exemplo do bom e do ruim juntos."

Ainda bem que somos capazes de transformar - de nos transformar - e fazer da tristeza, da mágoa e do arrependimento, do bom e do ruim em puros poemas.

2 de agosto de 2009 às 23:52  
Blogger Walmir Lima disse...

A prova de que podemos amar de novo é a prova de que carregamos em nosso interior esta chama de vida - que se chama Amor - que nunca se apaga, embora que por um tempo pareça ter morrido.
É um sentimento maravilhoso - um verdadeiro renascer a cada dia.

3 de agosto de 2009 às 00:00  
Blogger Flavio Ferrari disse...

O mesmo homem não bebe da mesma água no mesmo rio uma segunda vez ... (Confúcio, ou algum primo dele)

3 de agosto de 2009 às 04:07  
Blogger Flavio Ferrari disse...

Gestos impecáveis não carregam a semente do arrependimento (FF).

3 de agosto de 2009 às 04:08  
Blogger Flavio Ferrari disse...

Ser impecável é, simplificadamente, agir como se cada ato fosse derradeiro, tendo a maorte como conselheira (Castañeda)

3 de agosto de 2009 às 04:10  
Blogger Walmir Lima disse...

Flávio,

Interessante esta sua afirmação (Gestos impecáveis...), que considero absolutamente correta em sua assertiva.

Interessante também constatar - e aproveito aqui pra dizer o que eu já comentava antes mesmo de publicar esse texto - como um texto pequeno e simples como este, de pura ficção (já que a história não é real) mas sim a somatória de sentimentos e situações (por isso, traz embutida uma parábola em seu interior), teve, à sua época e tem agora, a possibilidade de trazer à luz uma série de considerações de diversas formas e vertentes de raciocínio.

Valeu!

Um abraço.

3 de agosto de 2009 às 10:42  
Blogger Walmir Lima disse...

Que seria de nós, reles mortais, se só tivessemos gestos impecáveis?(WL).

3 de agosto de 2009 às 10:44  
Blogger Anne M. Moor disse...

Walmir
Um sentimento profundo que nos tocou de algum jeito, jamais e apaga. É a soma desses momentos que fazem de nós quem somos hoje...

Big hug

3 de agosto de 2009 às 18:26  
Blogger CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Sem desilusões a gente ficaria muito pobremente "impecável"; melhor devidamente desiludido e cheio de "pecados", que "limpinho" e descolorido, sem sal...rsrsrsr
BJS!

7 de agosto de 2009 às 19:48  
Blogger Walmir Lima disse...

Maravilha de definição, Christina.

"Devidamente desiludido e cheio de pecados" é aquele fechamento de mestre, como aquela "pitada" de tempero que só os grandes Chefs sabem dosar.

Adoro uma comida bem temperada, picante.

Assim é a vida!

9 de agosto de 2009 às 02:08  
Blogger Raquel disse...

Embora muuuuito atrasada, vou deixar aqui meu humilde comentario:

Ava acertou na mosca. Nao temos todo o tempo do mundo. Alias, o tempo é um engodo. Quando somos jovens, somos muito afoitos e queremos fazer tudo o mais rapido que podemos. Na meia idade, ainda temos uns 40 anos de vida pela frente, mas a sensação é a de que não dá pra fazer mais nada. Mas o pior é aquela crença de que dá pra deixar pra depois. E deixando pra depois, deixamos pra outra vida. Se é que ela existe. Porque o momento passa.

Beijos

7 de outubro de 2009 às 09:06  
Blogger Reinaldo Ortega disse...

Amigo Walmir:
Feliz em revê-lo!
Ficção mas verossímil. Faz pensar no amor, na vida, nas pessoas que são ou foram importantes, no tempo e principalmente nas decisões. Foi bom ler isso.
Abração,

29 de janeiro de 2010 às 00:03  


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15 Comentários:

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