Princípios e Mágoas
© Walmir LimaIsso foi há anos, quando as coisas ainda não estavam tão definidas. Quando a gente ainda podia mudar o curso das coisas, se soubesse como fazer.
Éramos apenas dois jovens, virgens, fogosos e intensamente atraídos um pelo outro.
Ela era perfeita. Ela sempre foi perfeita.
E eu queria que ela continuasse assim... dessa maneira.
Queria que ela fosse jovem... jovem e madura, de alguma forma.
É claro que não era o que parecia para ela, mas, eu simplesmente não a possuí naquela noite.
-o0o-
Quando nos encontramos depois de certo tempo, falamos de muitas coisas, mas nunca daquilo.
Falamos do amor em geral, como se fosse tema de dissertação, e não como algo real.
Ela disse que o amor era como pular de um penhasco, ou como quase se afogar...
Honestamente, por muito tempo eu não entendi o que ela quis dizer.
Quer saber o motivo pelo qual eu parei naquela noite? Não foi por nobreza de caráter.
Isso foi o que eu disse a mim mesmo.
- Temos todo o tempo do mundo, certo? Pensei.
Mas, eu sabia que algo seria roubado de nós, e que algo desconhecido tomaria seu lugar - algo de que nós não sabíamos.
Restou a mágoa e a decepção a constatar que alguns momentos definem nossas vidas.
Às vezes, apenas um momento e, depois, passa...
Para sempre...
(Esse texto é uma parábola que fiz publicar no Jornal Cidade de Santos, em 1975 - Imagem: Óleo sobre tela "Storm at Sea")
Marcadores: Crônicas
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15 Comentários:
Lindo texto reflexivo...
Foi assim porque não era pra ser! Quanto mais vivo, mais tenho a certeza de que as coisas acontecem quando tem que acontecer...
Beijos (Glad to see you back.)
Nos fazem crer que temos todo o tempo do mundo...
Walmir, não temos... e se deixamos alguma coisa para depois, esse tempo nos é tirado...
Aí surgem a mágoa e a desilusão..
Mas depois somos capazes de transform isso em belos ensaios poéticos...
Bom te ter de novo por aqui...
Beijos
Anne,
Esse texto foi escrito numa outra época.
Olhando para ele agora, vejo que nem nossos equívocos mais marcantes apagam um sentimento profundo.
Ava, amiga atenta.
A Anne, falou no Life...Living no sentimento do prazer entre o bom e o ruim.
"Sentir o encanto do amor a crescer
A sensação do estar perto sem estar
Exemplo do bom e do ruim juntos."
Ainda bem que somos capazes de transformar - de nos transformar - e fazer da tristeza, da mágoa e do arrependimento, do bom e do ruim em puros poemas.
A prova de que podemos amar de novo é a prova de que carregamos em nosso interior esta chama de vida - que se chama Amor - que nunca se apaga, embora que por um tempo pareça ter morrido.
É um sentimento maravilhoso - um verdadeiro renascer a cada dia.
O mesmo homem não bebe da mesma água no mesmo rio uma segunda vez ... (Confúcio, ou algum primo dele)
Gestos impecáveis não carregam a semente do arrependimento (FF).
Ser impecável é, simplificadamente, agir como se cada ato fosse derradeiro, tendo a maorte como conselheira (Castañeda)
Flávio,
Interessante esta sua afirmação (Gestos impecáveis...), que considero absolutamente correta em sua assertiva.
Interessante também constatar - e aproveito aqui pra dizer o que eu já comentava antes mesmo de publicar esse texto - como um texto pequeno e simples como este, de pura ficção (já que a história não é real) mas sim a somatória de sentimentos e situações (por isso, traz embutida uma parábola em seu interior), teve, à sua época e tem agora, a possibilidade de trazer à luz uma série de considerações de diversas formas e vertentes de raciocínio.
Valeu!
Um abraço.
Que seria de nós, reles mortais, se só tivessemos gestos impecáveis?(WL).
Walmir
Um sentimento profundo que nos tocou de algum jeito, jamais e apaga. É a soma desses momentos que fazem de nós quem somos hoje...
Big hug
Sem desilusões a gente ficaria muito pobremente "impecável"; melhor devidamente desiludido e cheio de "pecados", que "limpinho" e descolorido, sem sal...rsrsrsr
BJS!
Maravilha de definição, Christina.
"Devidamente desiludido e cheio de pecados" é aquele fechamento de mestre, como aquela "pitada" de tempero que só os grandes Chefs sabem dosar.
Adoro uma comida bem temperada, picante.
Assim é a vida!
Embora muuuuito atrasada, vou deixar aqui meu humilde comentario:
Ava acertou na mosca. Nao temos todo o tempo do mundo. Alias, o tempo é um engodo. Quando somos jovens, somos muito afoitos e queremos fazer tudo o mais rapido que podemos. Na meia idade, ainda temos uns 40 anos de vida pela frente, mas a sensação é a de que não dá pra fazer mais nada. Mas o pior é aquela crença de que dá pra deixar pra depois. E deixando pra depois, deixamos pra outra vida. Se é que ela existe. Porque o momento passa.
Beijos
Amigo Walmir:
Feliz em revê-lo!
Ficção mas verossímil. Faz pensar no amor, na vida, nas pessoas que são ou foram importantes, no tempo e principalmente nas decisões. Foi bom ler isso.
Abração,
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