(Mário Quintana)

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segunda-feira, 19 de março de 2012

Strana Madrina

© Walmir Lima


"O homem nasceu livre e, por toda a parte, vive acorrentado."
                                                            Jean-Jacques Rousseau


A Esperança

Sua mente é um cemitério,
Seu coração é uma ilha.

Ela e eu não somos bons amigos,
Mas eu a conheço a vida toda.

Senta-se em mim,
Vazia e distante,
Mas suas palavras de encorajamento
Não me ajudam.

Sei de seus truques,
De suas falsas promessas.

Peço que me deixe:
"Tenho mais o que fazer!"
Mas esta conhecida
Nunca sabe quando partir.

Não é uma questão
De por que ela me quer bem.
É mais uma questão
De por que eu a deixo ficar.


Este sentimento me fez lembrar Platão...

Platão criou uma imagem memorável para as falsas crenças e ilusões de que, não raro, sofremos. Ele escreveu que somos todos como habitantes de uma caverna, acorrentados ao solo, olhar voltado para sombras que percorrem uma parede. Sombras que tomamos por realidades.

O primeiro homem a escapar da caverna da ilusão em que, segundo Platão, vivemos é o filósofo - aquele dentre nós que consegue perceber que vivemos, de certa forma, vidas de ilusão, aprisionados por sombras e correntes que não foram criadas por nós.

Ao voltar à caverna com seu estranho relato de outras realidades, ele será aclamado por alguns e vaiado por outros.

Tendemos a nos acomodar às nossas ilusões. Assim, somos facilmente ameaçados por quaisquer relatos estranhos de realidades maiores.

Mas, o verdadeiro filósofo tenta libertar o máximo de companheiros cativos, para que vivam nas realidades mais amplas e brilhantes que residem além dos estreitos limites de suas percepções costumeiras.

A meta da Filosofia é nos libertar da ilusão e nos ajudar a captar as realidades mais fundamentais.

Deveríamos nos perguntar: Sob que ilusões estamos vivendo agora? Que coisas valorizamos sem que realmente tenham a importância que lhes são atribuidas? Que coisas realmente valiosas podemos estar ignorando? Que suposições fazemos sobre nossa vida que podem se basear em aparências, em vez de realidades?

A maioria das pessoas está acorrentada por todo tipo de ilusão.

A estranha madrinha de todas elas...

A Esperança !


.

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4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Esperança? Perversa até, pois rouba ao caminheiro a real sentença!
Esta noção, experimentada até, se fixa num quadro objetivo: enganar-nos? Para que? como diria Bertold Brechet:"Rompa o circulo de giz caucassiano e projete-se em outras conquistas". Liberte-se dos grilhões que lhe acorrentam. Há sempre um público para as suas representações. A filosofia explica. Vamos ainda voltar ao exposto.
Abração do Velho
Lemos

20 de março de 2012 às 07:49  
Blogger Walmir Lima disse...

Meu amigo Jorge,

Grato por seu comentário sempre benvindo.

Fiz esta citação de Platão para apoio à analogia da alegoria que faço com o conceito subjetivo da Esperança Madrinha. Creio que, por oportuno, cabe aqui fazer, a título ilustrativo, um resumo do que se tem publicado a respeito:

O Mito da Caverna (também conhecido como Alegoria da Caverna, Prisioneiros da Caverna ou Parábola da Caverna) foi escrito pelo filósofo grego Platão e encontra-se na obra intitulada A República (Livro VII).

O Mito da Caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância. Isto é, a passagem gradativa do senso comum, enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.

Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da consciência, isto é, do conhecimento, abrange dois domínios: O domínio das coisas sensíveis e o domínio das idéias.

Para o filósofo, a realidade está no mundo das idéias (um mundo real e verdadeiro) e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo das coisas sensíveis (este mundo), no grau da apreensão de imagens, as quais são mutáveis, não são perfeitas como as coisas no mundo das idéias e, por isso, não são objetos suficientemente bons para gerar conhecimento perfeito.

O Mito trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimanto, são os irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua eterna busca da verdade sob uma ótica diferente.

Foi justamente por razões como essa (a da ótica diferente) que Sócrates foi morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão à escrita da Alegoria da Caverna pela qual Platão nos convida a imaginar que as coisas se passassem, na existência humana, comparavelmente à situação da caverna, ou seja: ilusoriamente, com os homens acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades.

20 de março de 2012 às 19:59  
Blogger Walmir Lima disse...

Prezado Jorge,

Só para dizer que, conforme conversamos, apresar de eu ter escrito (texto ainda a ser publicado) sobre minha saudade dos dias que passei em Paris desligado do mundo e escrevendo só para mim mesmo, essa postagem (e comentários decorrentes) sobre esse conceito/prisma diferente de Esperança me deixaria muito feliz se provocasse em alguém - uma pessoa só que fosse - o desejo de ler Platão, já que eu o citei.

Aliás, como disse, creio firmemente que a leitura e discussão dos pensamentos de Platão (pelo menos, o livro A República) deveria fazer parte do currículo escolar obrigatório de todos, indistintamente, que fossem ou não cursar Filosofia.

Considero-a, com suas maravilhosas reflexões, uma das obras-primas da humanidade, ainda que passados tantos e tantos Séculos de sua criação, e seguem alicerçando todas as linhas e vertentes do pensamento.

Para quem não sabe, esse e tantos outros livros são de domínio público e podem ser baixados gratuitamente na internet.

.W

21 de março de 2012 às 15:40  
Blogger Anne M. Moor disse...

Walmir
Fazia tempo que não vinha por aqui...
Quando dizes:
"O primeiro homem a escapar da caverna da ilusão em que, segundo Platão, vivemos é o filósofo - aquele dentre nós que consegue perceber que vivemos, de certa forma, vidas de ilusão, aprisionados por sombras e correntes que não foram criadas por nós."

Será que não foram criadas por nós? A minha caminhada na vida tem me mostrado que as ilusões, sombras e correntes que me aprisionaram foram criadas por mim e só puderam ser desfeitas por mim ao "acordar", nada fácil de fazer. But nevertheless possible.

Bom te ver por aqui novamente refletindo sobre os meandros da vida...

beijão
Anne

25 de março de 2012 às 16:25  


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4 Comentários:

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