(Mário Quintana)

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lecuona - Grupo Corpo

© Walmir Lima
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Tem poesia que é escrita,
Tem poesia que é falada,
Tem poesia que é cantada,
Tem poesia que é... dançada!
Tem poesia.
.............................Walmir Lima


Grupo Corpo Oficial — 9 de março de 2010 — Lecuona [2004]
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Ernesto Lecuona
Cenografia: Paulo Pederneiras
Figurino: Freusa Zechmeister
Iluminação: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso


-o-

Fundado em 1975 em Belo Horizonte, o Grupo Corpo estrearia no ano seguinte sua primeira criação, "Maria Maria". Com música original assinada por Milton Nascimento, roteiro de Fernando Brant e coreografia do argentino Oscar Araiz, o balé ficou seis anos em cartaz e percorreu catorze países. Mas, se a empatia com o público, o entusiasmo da crítica e o sucesso de bilheteria foram imediatos, a conquista de uma identidade artística própria, a sustentação de um padrão de excelência e a construção de uma estrutura capaz de garantir a continuidade da companhia e o estabelecimento de metas de longo prazo são fruto de árduo trabalho cotidiano.

Em 1985, chegava aos palcos o segundo grande marco na carreira do grupo: "Prelúdios", leitura cênica da interpretação do pianista Nelson Freire para os 24 prelúdios de Chopin. Primeiro trabalho em colaboração com Freusa Zechmeister, responsável até hoje pela criação dos figurinos da companhia. O espetáculo, que faz, então, sua estréia no I Festival Internacional de Dança do Rio de Janeiro, é aclamado pelo público e pela crítica, e termina de firmar o nome do grupo no cenário da dança brasileira.

O Corpo dá início então a uma nova fase, na qual irá processar a gestação de uma caligrafia e um vocabulário coreográfico únicos. A partir de um repertório eminentemente erudito - onde figuram, entre outras, obras de Richard Strauss, Heitor Villa-Lobos e Edward Elgar - vai tomando forma a combinação da técnica clássica com uma releitura contemporânea de movimentos extraídos dos bailados populares brasileiros que se transformaria em uma marca registrada do Grupo Corpo.

Em 1989, o núcleo de criação da companhia ganha outro colaborador importante: o artista plástico Fernando Velloso que vai contribuir para a construção da identidade visual do Corpo.

No mesmo ano, estréia "Missa do Orfanato", uma densa e grandiosa tradução cênica da Missa Solemnis k.139, de Mozart. De dimensões quase operísticas, o balé torna-se um marco estético tão definitivo na trajetória do grupo, que, quase duas décadas depois de sua estréia, permaneceu em repertório.

Na criação seguinte, 'Nazareth", transita entre os universos musicais - o erudito e o popular. Encontra uma oportunidade perfeita para se realizar mais plenamente. Inspirada no jogo de espelhamento proposto em contos e romances do ícone maior da literatura brasileira, Machado de Assis (1839-1908), e na obra de Ernesto Nazareth (1863-1934), figura seminal na formação da música popular no Brasil, a trilha criada pelo compositor e professor de Teoria Literária José Miguel Wisnik permite que, a partir de uma sólida base clássica, o Corpo leve para a cena uma bem-humorada síntese da brejeirice e da sensualidade (in)contidas no gingado próprio das danças brasileiras de salão.

A parceria do Corpo com autores contemporâneos dá tão certo que as trilhas especialmente compostas passam a ser uma norma e, cada trilha, o ponto de partida para a nova criação. De 1992 para cá, a exceção que confirma a regra é "Lecuona", de 2004 (vídeo acima), onde, a partir de treze derramadas canções de amor do cubano Ernesto Lecuona (1895-1963), Rodrigo exercita à exaustão seu dom para a criação de pas-de-deux.

O minimalismo de Philip Glass ("Sete ou Oito Peças para um Ballet"), o vigor pop e urbano de Arnaldo Antunes ("O Corpo"), o experimentalismo primigênio do amigo Tomzé ("Santagustin" e, em parceria com José Miguel Wisnik, "Parabelo"), a africanidade de João Bosco ("Benguelê"), versos metafísicos de Luís de Camões e Gregório de Mattos à luz de Caetano Veloso e Wisnik ("Onqotô"), a modernidade enraizada de Lenine ("Breu") dão origem a espetáculos de têmperas essencialmente diversas - cerebral, cosmopolita, interiorano, primordial, existencialista, brutal - sem que se percam de vista os traços distintivos do Corpo.

De volta ao Velho e ao Novo Mundo, quase duas décadas depois de vir ao mundo, em meados dos anos 90, o Corpo intensifica significativamente sua agenda internacional. Entre 1996 a 1999, atua como companhia residente da Maison de la Danse, de Lyon, França, fazendo neste período a estréia européia de suas novas criações na casa de espetáculos francesa ("Bach", "Parabelo" e "Benguelê"). Hoje, com mais de 40 coreografias e mais de 2.500 récitas na bagagem, a companhia mineira de dança contemporânea, mantém dez balés em repertório e faz uma média de 80 récitas anuais, apresentando-se em lugares tão distintos quanto a Islândia e a Coréia do Sul, Estados Unidos e Líbano, Canadá, Itália e Cingapura, Holanda, Israel, França, Japão e Costa Rica.

Confesso que vejo este vídeo e choro. Estou simplesmente embevecido, e orgulhoso, por este Grupo brasileiro que conheço bem e do qual sou assíduo admirador desde os tempos em que eu ainda morava em Santos.

Parabéns, Grupo Corpo, e obrigado por nos encantar!

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4 Comentários:

Blogger Anne M. Moor disse...

A dança é a poesia da vida! Adoro dançar! Este grupo eu não conhecia obrigada por compartilhar... Lindíssimo!

Beijos
Anne

20 de maio de 2010 às 11:14  
Blogger Ju disse...

Minha impressão: uma espécia de conto de fadas ao vivo, tão bem coreografado que parece estar sendo feito na hora... Poesia sim...Para os olhos e para a alma!
Saudades da tua emoção de viver!

23 de maio de 2010 às 21:35  
Blogger Ju disse...

ops, espéciE!

23 de maio de 2010 às 21:36  
Blogger Walmir Lima disse...

Para mim, dançar é transpirar poesia por todos os poros.

Um ato completo da manifestação divina que nos arrebata o corpo inteiro.

É, sim, pura poesia!

23 de maio de 2010 às 22:48  


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4 Comentários:

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