A Parisiense
© Walmir LimaGrato pelas palavras nos comentários da postagem anterior, "Amigos Novos, Postagens Antigas", e, devido às perguntas suscitadas, resolvi contar.
Esse quadro, lá publicado, tem uma pequena história...
Aos 10 anos, eu estava perdidamente apaixonado pelo meu primeiro amor, Fanny, uma coleguinha de classe, na Aliança Francesa, e procurei retratá-la num ambiente parisiense.
Acabei caprichando mais nos pontos dela que me fascinavam na época: os olhos e a boca. E até que 'a parisiense' ficou mesmo bem parecida com a linda Fanny.
Fanny era uma menina de família aparentemente abastada e eu, de família humilde, era bolsista no curso que ambos freqüentávamos.
"Nosso amor é impossível. Somos crianças, e, ademais, eu sou judia e você, cristão. Minha família nunca aceitará."
Foi assim que ela, lúcida e conformada, tentou me fazer entender, nos últimos dias do curso, falando diante de um Walmir pasmo e despedaçado.
Foram cinco anos de convívio platônico, maravilhoso e sonhador – quatro anos de "Língua Francesa" e um de “Civilização Francesa”. Nunca me esquecerei do famoso livro didático "Le Mauger" e seu personagem principal, Monsieur Vincent, que nos acompanhou por todo o curso. Que bela recordação!
Foi nessa época que me encontrei deslumbrado pelo mundo da arte, no contato que tive através da biblioteca da Aliança Francesa de Santos. Ficava horas e horas depois das aulas e aos sábados, lendo, olhando as pinturas e textos daquele país maravilhoso e seus estupendos artistas. E sonhando... sonhando... voava em pensamento até Paris, Nice, Marseille, Alsace, Bretagne, Bordeaux...
Na verdade, comecei na pintura aos oito anos de idade, como autodidata, sem saber sequer como misturar as tintas. E nunca aprendi formalmente.
Mas, foi assim, através da pintura, que, aos nove anos, ganhei a bolsa de Francês ao vencer um concurso de pintura que foi promovido nas escolas de curso primário de Santos (hoje, primeiro grau).
Ganhei a medalha de ouro e a bolsa completa de cinco anos.
O concurso interno na Escola Municipal Barão do Rio Branco, foi organizado pela Vice-Diretora, Profa. Ada La Scala, a quem agradeço, eternamente, pelo material de pintura utilizado, já que eu não tinha como comprar.
Jamais esquecerei o brilho dos olhos e o sorriso orgulhoso de D. Raquel, quando disse à classe que eu ganhara o concurso.
Tenho o maior carinho por esta cena que ficou gravada, de maneira indelével, em minha mente.
D. Raquel Leite, meu amor especial, quase materno, minha Professora de classe do curso primário, era uma senhora negra, linda, dentes alvos, corpo e busto avantajados e cabelos começando a agrisalhar, era o símbolo da bondade, da dedicação generosa e do amor.
Ela tinha orgulho de mim. Era, absoluta e totalmente, recíproco.
Dois anos mais tarde, eu ganharia outro concurso semelhante - o de pintura, da Società Italiana di Beneficenza, cujo primeiro prêmio era, também, uma medalha de ouro e uma bolsa completa de estudos de Língua Italiana, que teve duração de dois anos.
Foi mais um "banho" de arte e de cultura que tive sobre o berço da nossa civilização.
Fiquei 32 anos sem ver esse quadro, "A Parisiense".
Hoje, ele pertence ao acervo de minha primeira esposa, Clélia, que, há poucos dias atrás, gentil e carinhosamente, me enviou essa foto, via torpedo, no celular.
Quanto a voltar a pintar... bem que eu penso... desejo... tento...
Meu cavalete está armado na sala há anos, com todos os apetrechos ao lado e uma tela em branco, à espera do momento.
Minha forma de vida, junto com minha arte, persistem, tormentosamente, inacabadas.



































